quarta-feira, 2 de maio de 2012

Max Weber - A sociologia compreensiva


        
Diferentemente de Marx e Durkheim, Weber vai centrar suas análises no sujeito. Deste modo, esse pensador vai partir da ideia de que o indivíduo é o elemento primordial para compreender a realidade social. E essa análise passa pelo comportamento dos indivíduos, já que tudo que existe na sociedade é resultado da vontade e da ação dos indivíduos. É em suas condutas individuais que o agente associa um sentido que é orientado pelo comportamento dos outros. Veja as palavras do próprio autor:
Falaremos de ação na medida em que o indivíduo atuante atribua um significado subjetivo ao seu comportamento – seja ele claro ou disfarçado, omissão ou aquiescência. A ação é “social” na medida em que o seu significado subjetivo leva em conta o comportamento dos outros e é por ele orientado em seu curso. (WEBER).
 A ação social está ,deste modo, profundamente ligada ao conceito de relação social.
A expressão ‘ação social’ será usada para indicar o comportamento de uma pluralidade de atores na medida em que, em seu conteúdo significativo, a ação de cada um deles leva em conta a ação dos outros, e é orientada nesses termos. (IDEM).
Weber dá ênfase à relação na qual a atribuição de sentido é uma ação necessária e até mesmo fundadora do intercambio social. É por isso que ele afirma ser a Sociologia uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação social e para a explicação causal no seu transcurso e nos seus feitos.
 É o sentido que os homens estabelecem em suas ações que, segundo Weber, fundamenta a ordem social. Assim, o homem passa a ter na teoria de Weber, como indivíduo, um significado e uma especificidade que não encontramos no positivismo.

Não existe nesse autor a mesma oposição presente em Durkheim entre sociedade e individuo. Em Weber, as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam nos indivíduos sob a forma de motivação. Cada indivíduo é levado a agir por um motivo que é dado pela tradição, por interesses racionais ou pela emotividade.

Cabe ao cientista social descobrir os possíveis sentidos das ações humanas presentes na realidade social que ele irá estudar. Ao cientista social cabe perceber qual é o sentido produzido pelo agente em todas as suas conseqüências. É o indivíduo, por meio dos valores sociais e de sua motivação, que produz o sentido da ação social.
O caráter social da ação individual
Weber nos diz que por mais individual que seja a ação o fato do indivíduo agir segundo a expectativa do outro faz com que a sua ação tenha um caráter coletivo e social. É o que ele denomina de ação social. Quando esse sentido da ação social é compartilhado, temos a relação social. Isto é diferente da ação individual e, para que se estabeleça uma relação social, é preciso que haja um sentido compartilhado.

E qual é a diferença entre ação social e relação social?
A ação social é a conduta do agente que está orientada pela conduta do outro, pela expectativa que você possui sobre o que outro espera que você faça. Na relação social, a conduta de cada qual entre múltiplos agentes envolvidos orienta-se por um conteúdo e sentido reciprocamente compartilhado.
Ainda é preciso considerar que essa relação orienta-se pelas ações dos outros, que podem ser passadas, presentes ou futuras (vingança por ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de ataques futuros. Porém, nem toda espécie de ação, incluindo a ação externa, é social. A conduta humana é ação social somente quando ela está orientada pelas ações dos outros. Por exemplo, um choque entre dois ciclistas é um simples evento como fenômeno natural. Por outro lado, haveria ação social na tentativa dos ciclistas se desviarem, ou na briga ou considerações amistosas subseqüentes ao choque.

Os tipos de ação
Por causa da infinidade das ações humanas, Weber constrói uma teoria dos tipos de ação para apontar quais seriam os motivos básicos da ação social. Entre os tipos de ação temos, segundo Weber:
a)  Ação racional referente a fins: É a ação determinada por expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas. Estas expectativas funcionam como “condições” ou como “meios” para alcançar fins próprios ponderados e perseguidos racionalmente como sucesso.  Nesse tipo de ação, o homem coloca determinados objetivos e busca os meios mais adequados para consegui-los. O importante é perceber que o motivo da ação é alcançar sempre um resultado eficiente. É uma ação instrumental voltada para um fim utilitário. A empresa capitalista e o estrategista militar funcionam nessa lógica.
b)   Ação racional referente a valores: é determinada pela crença consciente no valor: ético, estético, religioso ou qualquer outro que é absoluto e inerente à ação e independe do seu resultado. O motivo da ação neste caso, não é um resultado, mas um valor, independentemente se o resultado for positivo ou negativo. O capitão que afunda junto com o seu navio é um exemplo, pois age racionalmente baseado num valor.
c)  Ação social afetiva (ou emotiva): é a ação determinada de modo afetivo guiada por paixões, por afetos ou estados emocionais. Uma resposta intempestiva está incluída neste grupo.
d)    Ação social tradicional: é a determinada pelo costume arraigado ou hábito, aquele tipo de ação que se faz porque sempre se fez. A maior parte das ações cotidianas enquadra-se neste tipo de ação.


No centro de relações sociais moldadas pelas lutas, Weber percebe o fato da dominação. Na verdade, entre os conceitos mais usados da teoria weberiana estão os conceitos de poder e dominação.
De acordo com o autor, poder é a capacidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social. Para Weber, poder é diferente de dominação, que significa probabilidade de encontrar uma pessoa pronta a obedecer a uma ordem de conteúdo determinado. A dominação pode ser entendida como uma relação social. Assim, para Weber, o importante é analisar o que torna legítima a autoridade, pois é com a legitimidade social que a dominação é justificada e efetivada.




quarta-feira, 18 de abril de 2012

O QUE FOI O POSITIVISMO?


O positivismo é uma corrente filosófica surgida na primeira metade do século XIX através de Auguste Comte (1798-1857).
"O positivismo se originou do "cientificismo", isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana para conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais. Essas leis seriam a base da regulamentação da vida do homem, da natureza como um todo e do próprio universo. Seu conhecimento pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais – até então – o homem explicava a realidade.
O positivismo reconhecia que os princípios reguladores do mundo físico e do mundo social diferiam quanto à sua essência: os primeiros diziam respeito a acontecimentos exteriores aos homens; os outros, a questões humanas. Entretanto, a crença na origem natural de ambos teve o poder de aproximá-los. Além disso, a rápida evolução dos conhecimentos das ciências naturais – física, química, biologia - e o visível sucesso de suas descobertas no incremento da produção material e no controle das forças da natureza atraíram os primeiros cientistas sociais para o seu método de investigação. Essa tentativa de derivar as ciências sociais das ciências físicas é patente nas obras dos primeiros estudiosos da realidade social. O próprio Comte deu inicialmente o nome de "física social" às suas análises da sociedade, antes de criar o termo Sociologia.
Essa filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das ciências da natureza, assim como procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de organicismo.
“Podemos apontar, portanto, como primeiro princípio teórico dessa escola a tentativa de constituir seu objeto, pautar seus métodos e elaborar seus conceitos à luz das ciências naturais, procurando dessa maneira chegar à mesma objetividade e ao mesmo êxito nas formas de controle sobre os fenômenos estudados."
(Cristina Costa, Sociologia: Introdução á ciência da sociedade, Editora Moderna , São Paulo, 1997, pág. 46 e 47)
Ao equiparar o estudo da sociedade ao estudo da natureza, toma como modelo a ciência natural e, mais especificamente, a Biologia. Desta , advém muitos dos conceitos que marcam a Física social, ou a Sociologia, como os de hierarquia, consenso, órgão, função, estática, dinâmica, enfim, as idéia de fenômenos interdependentes dentro de um sistema funcional, organicamente composto.
Essa identificação do estudo da sociedade ao estudo da natureza, que leva a primeira à busca de leis sociais análogas às leis da Física (entende-se aqui uma interpretação estática desta ciência), elimina o papel da prática social como elemento gerador de mudanças na sociedade. "a prática social, especialmente no que se refere à transformação do sistema social, fora assim suprimida pela fatalidade. A sociedade era concebida por leis racionais que funcionavam com necessidade natural." (Marcuse, Razão e Revolução, Rio de Janeiro, Ed. Saga, 1969, p. 310)
A sociedade tem uma ordem natural que não muda e à qual o homem deve submeter-se. Essa posição de submissão aos princípios das leis invariáveis da sociedade leva a uma posição de resignação grandemente enfatizada na obra de Comte. A consideração de que "o espírito positivo tende a consolidar a ordem pelo desenvolvimento racional de uma sábia resignação diante dos males políticos incuráveis" (Morais Filho, Auguste Comte: sociologia, São Paulo, Ática, 1983, p. 31) revela bem que isso. A pregação da resignação facilita a aceitação de leis naturais que consolidam a ordem vigente, justificadora da autoridade reinante e facilitadora da proteção dos interesses – riqueza e poder – hegemônicos naquele momento histórico.
Os fenômenos econômicos são muitas vezes apontados por Comte como expressão dessas leis sociais naturais invariáveis, por coincidência, referindo-se, principalmente, ao caso da concentração de capital.
Com o objetivo de fortalecimento da ordem social combate-se qualquer doutrina revolucionária e todas as forças se concentram numa renovação moral da sociedade. A mudança da sociedade passa fundamentalmente por um refazer dos costumes, uma reforma intelectual do homem, e menos pela transformação de suas instituições. A sociedade se modifica através da visão de PROGRESSO como um mecanismo da própria ORDEM, sem destruição da ordenação vigente, num processo evolutivo. Como afirma Marcuse: "o positivismo está, pois, interessado em ajudar a ‘transformar a agitação política em uma cruzada filosófica’ que suprimiria tendências radicais que eram afinal de contas incompatíveis com qualquer sadia concepção da história" (Marcuse, p. 312). O citado autor continua, buscando mostrar que o progresso é, em si, ordem – não é revolução, mas evolução.
A ideia de ORDEM e PROGRESSO (lema de nossa bandeira), em Comte, vem de sua visão dos fenômenos da sociedade. Para ele, todo ser vivo pode ser estudado sob uma dimensão estática e uma dinâmica, que apreciaram a sociedade em repouso e em movimento. Relaciona essas duas dimensões á anatomia e á fisiologia.
A visão de ordem tem sua origem na noção de ESTÁTICA, que estuda a existência, suas condições e a estrutura que a gera. Corresponde á compreensão da existência naquilo que ela oferece de fixo, de estrutural. ("família, religião, propriedade, linguagem, direito etc. seriam responsáveis pelo movimento estático da sociedade", in: Cristina Costa, op. Cit., pág. 51)
A Sociologia dinâmica se preocupa com o entendimento do movimento, do desenvolvimento, da atividade da vida coletiva, correspondendo á noção de PROGRESSO. Essa dimensão da dinâmica social é o que vai distinguir, marcadamente, a Sociologia da Biologia, ou seja, "a ideia-mãe do progresso contínuo ou, antes, do desenvolvimento gradual da humanidade". (Morais Filho, p. 134). Em última instância, torna-se necessário melhorar as condições de vida das classes menos favorecidas, sem incomodar a ordem econômico-política da sociedade. O desenvolvimento histórico dá-se portanto, pela evolução organizada, regida por leis naturais, ou seja, PROGRESSO HISTÓRICO É ORDEM.
A lei dos três estados de Comte demonstra essa visão do desenvolvimento histórico da sociedade. Para ele, essa grande lei explica o "desenvolvimento total da inteligência humana em suas diversas esferas de atividade", destacando que essa e todos os conhecimentos passam sucessivamente por três estados históricos distintos: o teológico, o metafísico, ou abstrato, e o científico, ou positivo. Esses três estados se expressam não apenas nas formas por que, sucessivamente, toda investigação passa, como também pela própria evolução da humanidade. Assim se expressa Comte: "(...) ora, cada um de nós contemplando sua própria história, não se lembra de que foi sucessivamente, no que concerne ás noções mais importantes, teólogo em sua infância, metafísico em sua juventude e físico na sua virilidade".
No estado teológico, predominam as criações espontâneas, não sujeitas à prova; no metafísico, a dominância é das abstrações e de princípios racionais e, no positivo, o alicerce está numa apreciação firme da realidade externa , enunciando-se as relações entre os fenômenos.
Assim, tanto a determinação das leis naturais e eternas como agora, a visão de evolução da sociedade e da história sob a ótica positivista aniquilam a prática social dos homens, transformadora da sociedade.
Esta ideia dos três estágios combinada com a transposição de teses do Darwinismo para a sociedade originou o que ficou conhecido como Darwinismo social.
No campo da Biologia Darwin afirmava que as diversas espécies de seres vivos se transformam continuamente com a finalidade de se aperfeiçoar a garantir a sobrevivência. Em conseqüência, os organismos tendem a se adaptar cada vez melhor ao ambiente, criando formas mais complexas e avançadas de existência, que possibilitam, pela competição natural, a sobrevivência dos seres mais aptos e evoluídos.
Tais idéias, transpostas para a análise da sociedade, resultaram no DARWINISMO SOCIAL, isto é, o princípio de que as sociedades se modificam e se desenvolvem num mesmo sentido e que tais transformações representariam sempre a passagem de um estágio inferior para outro superior, em que o organismo social se mostraria mais evoluído, mais adaptado e mais complexo. Esse tipo de mudança garantiria a sobrevivência dos organismos – sociedades e indivíduos – mais fortes e mais evoluídos.
Estava criada assim o suporte teórico para justificar no século XIX o domínio colonialista de nações europeias sobre povos da América, da África, da Oceania e da Ásia.
Os principais cientistas sociais positivistas, combinando as concepções organicistas e evolucionistas inspiradas na perspectiva de Darwin, entendiam que as sociedades tradicionais encontradas nos continentes citados acima não eram senão "fósseis vivos", exemplares de estágios anteriores, "primitivos", do passado da humanidade. Assim, as sociedades mais simples e de tecnologia menos avançada deveriam evoluir em direção a níveis de maior complexidade e progresso na escala da evolução social, até atingir o "topo": a sociedade industrial européia. Porém essa explicação aparentemente "científica" para justificar a intervenção européia nesses continentes era, por sua vez, incapaz de explicar o que ocorria na própria Europa. Lá, os frutos do progresso não eram igualmente distribuídos, nem todos participavam igualmente das conquistas da civilização. Como o positivismo explicava essa distorção?"
(Consuelo Quiroga, Invasão Positivista no Marxismo: manifestações no ensino da Metodologia no serviço Social, Cortez Editora, São Paulo, 1991, pág. 49-52)

Diferença entre problema sociológico e problema social

                 
A Sociologia enquanto ciência nasceu no século XIX a partir do pensamento positivista de Augusto Comte, o qual, propondo uma analogia aos métodos empregados em outras ciências como a biologia, a física e a química, tentou construir uma ciência da sociedade. Segundo Comte, para além das leis físicas e biológicas haveria as leis sociais, que regeriam a vida social.
Mais tarde, Emile Durkheim se esforçaria em dar um caráter mais cientificista à Sociologia. Segundo Raymond Aron, a concepção de Sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria do fato social, sendo seu objetivo demonstrar que poderia haver uma ciência sociológica que tinha como objeto de estudo os fatos sociais. Para Durkheim, seria preciso observá-los como “coisas”, de forma imparcial e distanciada, assim como quaisquer outros fatos ou fenômenos das demais ciências, aplicando-se para isso um método específico (método este desenvolvido em sua obra). Esse esforço para a institucionalização de uma ciência da vida social (das relações sociais e dos fenômenos que delas resultam) fazia muito sentido naquele contexto se levarmos em consideração os desdobramentos das principais transformações sociais, políticas e econômicas pelas quais passava a Europa.
O desenvolvimento de uma sociedade industrial, de caráter urbano, trazia à tona novos problemas sociais, os quais poderiam ser compreendidos por uma nova ciência. Contudo, embora a Sociologia tenha se pretendido como uma ferramenta de intervenção na sociedade em alguns momentos, ao longo de sua constituição enquanto área de conhecimento, vale ressaltar que ela não tem como maior objetivo solucionar os problemas que afetam a vida em sociedade, mas sim compreendê-los. Obviamente, enquanto ciência, ela pode colaborar na construção de vias alternativas para a resolução de problemas, mas daí a pensarmos nela como ferramenta para solução de tudo é no mínimo um erro. Compreender a lógica de funcionamento dos fenômenos não significa poder intervir necessariamente. Basta fazermos uma alusão à Medicina enquanto área de conhecimento. Quantos médicos devem estudar uma doença como a AIDS? Já sabem como esse mal se manifesta nos seres humanos, suas causas, as características do vírus e efeitos sobre o corpo doente, entre tantas outras coisas. Contudo, ainda não foi descoberto um tratamento visando a cura, mas apenas como tratar o doente de uma forma que sua expectativa de vida possa ser ampliada. Assim, seja a Sociologia, a Medicina, ou qualquer outra ciência, devemos apenas esperar possíveis explicações para os fenômenos em si, suas causas e efeitos (embora não sejam tão claros na sociedade), e não necessariamente a resolução definitiva de algum problema.
Partindo desse ponto, é importante sabermos que há uma diferença entre problemas sociais e problemas sociológicos. Em alguns livros de introdução à Sociologia, como no trabalho de Sebastião Vila Nova, define-se que um problema social tem origem em fatores sociais e tem consequências sociais. Embora a classificação de um problema social possa ser subjetiva (afinal de contas, o que é um problema para nossa cultura pode não ser em outra), dentre as suas características mais gerais podemos dizer que estão o sentimento de indignação e de ameaça à coletividade que podem ser gerados. A indignação estaria ligada ao sentimento de injustiça (do ponto de vista moral) despertado por esse problema social e, da mesma forma, a ideia de ameaça à coletividade estaria vinculada à desestabilização do que Durkheim chamava de solidariedade social, a qual seria responsável pelos laços sociais entre os indivíduos.
Para exemplificar a primeira característica (da indignação), podemos pensar no trabalho e na prostituição infantil, na fome no Nordeste brasileiro, na condição do trabalhador desempregado, na pobreza que afeta as regiões metropolitanas brasileiras, entre outros assuntos que certamente nos “incomodam” mesmo que não sejamos atingidos diretamente. Já com relação à noção de ameaça à coletividade, podemos pensar na violência urbana, nas crises econômicas que levam ao desemprego, nas guerras entre os países e etnias, nas ações preconceituosas das mais diversas naturezas, enfim, numa série de fatores que afetam a ordem social como um todo.
Já os problemas sociológicos são os objetos de estudo da Sociologia enquanto ciência, a qual se debruça sobre esses para compreender suas características gerais. Como afirmado anteriormente, a Sociologia estuda os fenômenos sociais, sendo eles percebidos como problemas sociais ou não, lançando mão de uma observação sistemática e pormenorizada das organizações e relações sociais. Problemas sociológicos, nas palavras de Sebastião Vila Nova, são questões ou problemas de explicação teórica do que acontece na vida social, isto é, na sociedade, como por exemplo: o casamento, a família, a moda, as festas como o carnaval, o gosto pelo futebol, a religião, as relações de trabalho, a produção cultural, a violência urbana, as questões de gênero, desigualdade social, etc.
A violência urbana, por exemplo, pode ser um problema sociológico, uma vez que pode despertar o interesse dos sociólogos para desvendar os motivos de tal fenômeno social, mas ao mesmo tempo trata-se de um problema social, haja vista afetar toda a coletividade. No entanto, caberia à Sociologia apenas explicá-la, e não necessariamente resolvê-la. Dessa forma, podemos dizer que todo problema social pode ser um problema sociológico, mas nem todo problema sociológico é um problema social.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A sociologia de Durkheim

Durkheim teve o mérito de dar à Sociologia maior rigor científico. Em livros e cursos, sua preocupação foi definir com precisão o objeto, o método e as aplicações dessa nova ciência, a Sociologia.

Em uma de suas obras fundamentais, As regras do método sociológico, publicada em 1895, Durkheim formulou com clareza o tipo de acontecimento sobre os quais o sociólogo deveria se debruçar: os fatos sociais. Estes constituiriam o objeto da Sociologia.
Três são as características que Durkheim distingue nos fatos sociais. 
A primeira delas é a coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformarem-se às regras da sociedade em que vivem, independente de suas vontades e escolhas. Essa força se manifesta quando o indivíduo adota um determinado idioma, quando se submete a um determinado tipo de formação familiar ou quando está subordinado a determinado código de leis.

O grau de coerção dos fatos sociais se torna evidente pelas sanções a que o individuo está sujeito quando contra elas tenta se rebelar. As sanções podem ser legais e espontâneas. Legais são as sanções prescritas pela sociedade, sob a forma de leis, nas quais se identifica a infração e a penalidade. Espontâneas seriam as que aflorariam como decorrência de uma conduta não adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade à qual o indivíduo pertence. Diz Durkheim, exemplificando este ultimo tipo de sanção:

“se sou industrial, nada me proíbe de trabalhar utilizando processos e técnicas do século passado; mas, se o fizer, terei a ruína como resultado inevitável”

 A educação desempenha, segundo Durkheim, uma importante tarefa nessa conformação dos indivíduos à sociedade em que vivem, a ponto de, após algum tempo, as regras estarem internalizadas e transformadas em hábitos.
A segunda característica dos fatos sociais é que eles existem e atuam sobre os indivíduos independentemente de suas vontades ou de suas adesões conscientes, ou seja, eles são exteriores aos indivíduos. As regras sociais, os costumes, as leis, já existiam antes do nascimento das pessoas, são a elas impostos por mecanismos de coerção social, como a educação. Portanto , os fatos sociais são ao mesmo tempo coercitivos e dotados de existência exterior às consciências individuais.

A terceira característica apontada por Durkheim é a generalidade. É social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos, pelo menos , na maioria deles. Desse modo, os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral.

Ou seja, todo fato social terá essas três características:
1- Coercitividade
2- exterioridade
3- generalidade

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O que é Sociologia?

Para responder tal pergunta, iniciaremos descrevendo a origem da palavra Sociologia. Etimologicamente (o verdadeiro significado), Sociologia tem sua origem no latim, da palavra socius, que significa sócio ou social, e no grego logos que significa estudo. Sociologia é então o estudo do social, da sociedade ou das relações entre as pessoas. É a ciência da sociedade. Por isso a sociedade precisa ser definida pela Sociologia e a vida social precisa ser explicada pela Sociologia. É a reflexão dos homens sobre eles mesmos, onde o social como tal é colocado em questão na relação elementar entre indivíduos ou pela entidade global.
E o que podemos entender por sociedade, já que ela é o objeto de estudo da sociologia? Apresentando um conceito de sociedade, recorremos a Giddens (1984, p.15), que a define da seguinte forma:
Uma sociedade é um grupo, ou sistema, de modos institucionalizados de conduta. Falar de formas institucionalizadas de conduta é referir-se a modalidades de crenças e comportamentos que ocorrem e recorrem ou, como expressa a terminologia da moderna teoria social, são socialmente produzidos e reproduzidos no tempo e no espaço.

Quando se fala em sociedade tem-se em mente a ideia de seres humanos em interdependências e em inter-relações, mas a Sociologia não se limita ao estudo das condições de existência social dos seres humanos.
A sociologia pode ser entendida como uma área de conhecimento que se baseia na observação metódica dos fenômenos sociais.
Um dos aspectos mais importantes na abordagem de seu objeto é a preocupação em aplicar o ponto de vista científico à observação e à explicação dos fenômenos sociais.
Quando estivermos falando de objeto sociológico estaremos fazendo referencia à tudo que ocorre dentro de uma sociedade: instituições sociais, criminalidade, desemprego, alcoolismo, drogatização, redes sociais etc ,ou seja, tudo que interligue direta ou indiretamente as pessoas e as fazem integrantes dessas redes. O alcoolismo , por exemplo, é um problema que aflige não apenas o alcoólatra, mas os que convivem com ele e a própria sociedade como um todo, pois gera problemas na família (que é uma instituição social), no emprego (que cria interdependência entre as pessoas através de sua própria socialização etc), na saúde pública etc.

(Imagens de Émile Durkheim)
Para Durkheim, a Sociologia pode ser entendida como a "ciência das instituições, da gênese (origem, início) e de seu funcionamento, isto é, de toda a crença, todo o comportamento instituído pela coletividade". Sendo que os fatos sociais constituem-se o objeto de estudo da Sociologia e compreendem:
Toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou então ainda, que é geral na extensão deu ma coletividade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter. As maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de em virtude do qual se lhe impõe, ou maneiras de fazer ou de pensar, reconhecíveis pela particularidade de serem suscetíveis de exercer influência coercitiva sobre as consciências particulares.

O estudo sociológico faz com que atividades cotidianas passem a ser problematizadas. O simples ato de ir ao supermercado pode ser uma experiência interessante do pondo de vista sociológico. Mas, para isso, temos que abstraí-lo das nossas rotinas e olhá-lo de forma diferente.
Como um sociólogo poderia fazer a análise de uma ida ao supermercado?
Vejamos , na sequência, alguns pontos que poderiam ser problematizados:

  • Primeiro, verificamos a gama enorme de produtos dos mais diversos locais e de diferentes países, que deixa evidente o processo de globalização em curso;
  • Na prateleira dos cereais, podemos perceber que a soja transgênica faz parte de nossa meda;
  • Na prateleira de produtos de beleza, verificamos que a industria de cosmético apresenta novos lançamentos quase que diariamente. Isto no leva a hábitos de consumo diferenciados;
  • Ao ver a promoção no preço da carne bovina, lembramos que há uma disputa internacional sobre embargos econômicos;
  • No setor de hortifrutigranjeiros, deparamo-nos com discussões sobre a alimentação saudável, livre de agrotóxicos, com implicações sobre diferentes estilos de vida;
  • No caixa, ficamos sabendo que o funcionário te nível superior completo, mas que trabalha ali por não ter outra possibilidade de emprego e, então, pensamos sobre as relações de trabalho na atualidade.
Assim, a Sociologia nos permite entender que muitos atos que parecem ser apenas individuais, em verdade, refletem questões muito mais amplas.

      A Sociologia pode significar também o tratamento teórico-prático da desigualdade social. Ela também pode ser como um ferramenta a serviço dos interesses dominantes, como veremos no pensamento de Comte; assim como, por outro lado, pode servir como expressão teórica dos movimentos revolucionários (baseada na análise crítica sobre das condições de existência da sociedade feita por Karl Marx).
      Por isso, ela pode ser considerada um projeto intelectual marcado por conflitos de ideias, discussões, tensões e até, em algumas situações por contradições. É preciso enfatizar que em Sociologia são inevitáveis as diferenças ideológicas e metodológicas.
      A Sociologia, como ciência, pretende explicar o que acontece na sociedade. É um tipo de conhecimento garantido pela observação sistemática dos fatos e pode transformar-se num instrumento de intervenção social. Vendo os fatos com uma tentativa de desnaturaliza-los, ou seja, não aceitando os mesmos como se fossem naturais , mas oriundos (originados, causados) de uma ordem social, de um pensamento ou modo de vida coletivo. Por exemplo, como podemos aceitar que muitos seres humanos passem fome justamente quando no mundo há imensa quantidade de alimentos? Como podemos entender que o ser humano que nega comida ao seu semelhante entenda isso como normal? Como podemos aceitar que em época onde há excesso de produção de alimentos haja milhares de famintos? E que é justamente no período de maior produtividade há uma crise econômica no mercado, desempregos e muita fome e de desordem social? Assista  a seguir o vídeo "Ilha das flores" e perceberás essas contradições quando se enxerga a realidade com profundidade. Com um olhar distanciado do senso comum e mais próximo do sociológico.



      sábado, 17 de março de 2012

      Pensamentos...

      Às vezes a mudança não é só necessária como também se faz urgente. A rotina é uma merda que tentamos tratá-la como adubo. Ela nos faz seres tão medíocres quanto previsíveis. Tudo que se torna previsível e repetitivo perde o charme, a elegância e graça. O ciclo já se perde e as motivações são demasiadamente mecânicas. A mudança é sempre bem vinda!!! Viver é isto: Novas descobertas, metas, perspectivas, amores e boas amizades. 

      Lucubrações

      O apetite é sinônimo de vida, de força vital, de altivez diante do fracasso.
      Encarar corajosamente as vicissitudes é primeiramente ter apetite!!! Pode ser qualquer apetite; o importante é ter ainda necessidade vital. O apetite nos insere na luta do (e pelo) corpo e da alma.